Leitura Bíblica: Tiago 4:4
Versículo-chave: “Adúlteros! Não percebem que a amizade com o mundo os torna inimigos de Deus? Repito: se desejam ser amigos do mundo, tornam-se inimigos de Deus.” (Tiago 4:4 NVT)
Tiago dirige-se a cristãos que, embora compreendam a mensagem do Evangelho, vivem como se ignorassem que “a amizade com o mundo” é totalmente incompatível com um relacionamento genuíno com Deus. O termo “amizade” vem de philos, palavra grega que designava o “amigo estimado”, aquele com quem se compartilha intimidade e afeto recíproco. Assim, “a amizade com o mundo” não expressa apenas uma “afeição superficial” pelas coisas terrenas, mas implica envolvimento profundo, cumplicidade e comprometimento com o sistema deste mundo.
Kosmos (mundo) não se refere meramente ao planeta ou à humanidade, mas ao sistema moral e espiritual que se opõe a Deus — um mundo que está sob o domínio do maligno (1 João 5:19), que crucificou o Senhor da glória (1 Coríntios 2:8) e cuja sabedoria é “terrena, mundana e demoníaca” (Tiago 3:15 NVT). Nesse sentido, João adverte:
“Não amem este mundo, nem as coisas que ele oferece, pois, quando amam o mundo, o amor do Pai não está em vocês.” (1 João 2:15 NVT)
A “amizade com o mundo”, portanto, vai muito além do simples comportamento mundano — é uma aliança com os princípios que governam a ordem caída da criação. Representa lealdade a uma estrutura que se ergue em oposição a Deus, tanto em seus desejos quanto em seus propósitos e meios. Essa busca por segurança e prazer fora de Deus é, nas Escrituras, descrita como infidelidade espiritual. Por isso, quando Tiago escreve: “Adúlteros! Não percebem que a amizade com o mundo os torna inimigos de Deus?”, ele denuncia uma fé corrompida, que tenta conciliar o Evangelho com as ambições humanas que buscam o favor de Deus, sem renunciar às coisas deste mundo.
Não se trata de um mero afastamento emocional de Deus, mas de uma postura de resistência ativa, de rivalidade e rebelião moral (Romanos 8:6-7). Em Colossenses, somos lembrados de que, antes da reconciliação em Cristo, éramos “inimigos de Deus e separados dEle por nossos maus pensamentos” (Colossenses 1:21 NVT). Assim, as palavras de Tiago não são um exagero, mas uma constatação séria: “se desejam ser amigos do mundo, tornam-se inimigos de Deus”.
Aquele que molda sua vida conforme os padrões do mundo não está apenas se afastando de Deus, mas se colocando em oposição direta a Ele. Até mesmo um cristão pode agir como inimigo de Deus quando seu coração se apega mais ao sistema corrompido do mundo do que ao Reino. É por isso que Jesus declara: “Ninguém pode servir a dois senhores, pois odiará um e amará o outro; será dedicado a um e desprezará o outro…” (Mateus 6:24 NVT).
E Paulo reforça:
“Como pode a justiça ser parceira da maldade? Como pode a luz conviver com as trevas? Que harmonia pode haver entre Cristo e o diabo? Como alguém que crê pode se ligar a quem não crê? E que união pode haver entre o templo de Deus e os ídolos?” (2 Coríntios 6:14,15,16 NVT)
Tiago não está afirmando que o cristão se torna automaticamente amigo do mundo por causa de suas falhas ocasionais, mas a condição é intencional: há um desejo de “ser amigo do mundo”. Assim, o autor não está condenando os que lutam contra o pecado, mas os que, de forma intencional ou disfarçada, buscam conciliar a fé cristã com os valores e prazeres do mundo. Portanto, não há meio-termo na vida espiritual: ou somos amigos de Deus, ou nos colocamos como seus inimigos. O discípulo que tenta ajustar o Evangelho às conveniências do tempo presente, que relativiza a verdade por status ou aceitação está se opondo ao próprio Deus!
Reflita sobre isso💭