Leitura Bíblica: Tiago 4:5
Versículo-chave: “O que vocês acham que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espírito colocado por Deus em nós tem ciúmes?” (Tiago 4:5 NVT)
O versículo de hoje apresenta um termo que costuma carregar um conceito predominantemente negativo: “ciúme”, geralmente associado à inveja ou ao descontentamento diante do bem do outro. Entretanto, nas Escrituras, essa palavra é muitas vezes empregada para traduzir a ideia de um zelo intenso – especialmente o zelo de Deus por Seu povo. Ela também aparece em diferentes contextos das cartas de Paulo para descrever “anseio profundo” e “saudade” (2 Coríntios 5:2; Filipenses 1:8).
Em Tiago 4:5, a palavra é usada para expressar o profundo desejo do Espírito Santo de que haja nos cristãos lealdade, exclusividade, intimidade e pureza de vida. Assim, o que Tiago está dizendo é que o Espírito que Deus fez habitar em nós manifesta um zelo tão intenso que não tolerará a amizade com o mundo – mencionada em Tiago 4:4. Portanto, quando lemos que “o Espírito colocado por Deus em nós tem ciúmes”, o sentido não é de um sentimento humano descontrolado, mas de um zelo santo e exclusivo, próprio da natureza divina.
No Antigo Testamento, esse zelo de Deus é descrito como uma das marcas do Seu caráter:
“Não adore outros deuses, pois o Senhor, cujo nome é Zeloso, é Deus zeloso de seu relacionamento com vocês.” (Êxodo 34:14 NVT)
Esse texto revela que o zelo do Senhor busca a preservação da pureza da aliança.
“O Senhor, seu Deus, é fogo devorador; é Deus zeloso.” (Deuteronômio 4:24 NVT)
Aqui, a metáfora do “fogo devorador” simboliza o amor purificador de Deus, capaz de eliminar tudo o que ameaça a comunhão entre Ele e o Seu povo.
“Eu me casarei com você para sempre, e lhe mostrarei retidão e justiça, amor e compaixão. Serei fiel a você e a tornarei minha, e você conhecerá a mim, o Senhor.” (Oseias 2:19-20 NVT)
Por meio do profeta Oseias, Deus é retratado como o marido traído, que, mesmo diante da infidelidade de Israel (representada por Gômer), restabelece a aliança movido por amor zeloso. Esse zelo não destrói, mas redime; não condena, mas convida ao arrependimento e à reconciliação.
Assim, o uso que Tiago faz do termo “ciúme” remete a estes textos do Antigo Testamento. O “Espírito colocado por Deus em nós” exige fidelidade total, não apenas em comportamentos externos, mas também nas afeições e nos desejos mais íntimos do coração. O ciúme de Deus é, portanto, um zelo santo que protege o vínculo da aliança, tal como o de um esposo que não aceita a infidelidade de sua esposa (Zacarias 8:2-3).
Desse modo, a presença do Espírito em nós não é passiva nem indiferente: Ele habita para transformar, purificar e santificar, e não para coabitar com a impureza. Ignorar essa realidade é desprezar o zelo de Deus e o propósito da habitação do Espírito em nós. Portanto…
“Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, o selo que Ele colocou sobre vocês para o dia em que nos resgatará como sua propriedade.” (Efésios 4:30 NVT)