Leitura Bíblica: Filemom 1:4-12
Versículo-chave: “Suplico que demonstre bondade a meu filho Onésimo. Tornei-me pai dele na fé quando estava aqui na prisão.” (Filemom 1:10 NVT)
Após as saudações iniciais, Paulo inicia a carta reconhecendo a fé de Filemom elogiando-o por sua generosidade em fortalecer os cristãos e por sua participação ativa na igreja primitiva:
“Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo.” (Filemom 1:4-5 NVT)
Essas palavras não são simples cortesia nem algum tipo de bajulação, mas o alicerce sobre o qual Paulo construirá seu apelo. O apóstolo relembra Filemom da própria essência de sua fé:
“Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.” (Filemom 1:7 NVT)
Assim, se Filemom demonstrara amor ao povo santo e era reconhecido por sua bondade, esse amor deveria agora se estender também àquele que se apresentava à sua porta — não mais como servo, mas como irmão na fé.
Paulo conduz Filemom ao cerne da mensagem, adotando um tom pessoal e profundamente persuasivo. Ele não fala como uma autoridade distante que impõe ordens, mas como alguém movido pelo amor cristão. Por isso, escreve:
“Ainda que pudesse exigir em Cristo que você faça o que é certo, prefiro pedir com base no amor — eu, Paulo, já velho e agora prisioneiro de Cristo Jesus.” (Filemom 1:8-9 NVT)
Ao destacar sua condição – “velho e agora prisioneiro” – Paulo queria enfatizar que escreve não de um lugar de conforto ou prestígio, mas de correntes e confinamento (Efésios 6:20). Sua postura revela humildade e coerência com o próprio Evangelho que anuncia, o mesmo Evangelho que transforma escravos e senhores em irmãos (Gálatas 3:28; Colossenses 3:11).
Em seguida, Paulo introduz o nome que está no centro da carta: Onésimo. Mas ele não o apresenta como escravo fugitivo. Em vez disso, o apóstolo o chama de filho:
“Suplico que demonstre bondade a meu filho Onésimo. Tornei-me pai dele na fé quando estava aqui na prisão.” (Filemom 1:10 NVT)
Com essas palavras, Paulo redefine a identidade de Onésimo — não conforme seu status legal, nem à luz de seus erros passados, mas segundo a nova realidade que ele agora tem em Cristo. Ele já não é apenas uma propriedade de Filemom, mas um irmão amado, de valor muito além do que qualquer lei romana poderia determinar. A conversão de Onésimo é a prova de que o Evangelho rompe barreiras sociais, espirituais e culturais – “não há diferença entre judeus e gentios, uma vez que ambos têm o mesmo Senhor, que abençoa generosamente todos que o invocam” (Romanos 10:12 NVT).
Contudo, Paulo não ignora a gravidade do ocorrido. Ele reconhece que Onésimo fora outrora “inútil” a Filemom – referência tanto à sua fuga quanto significado do seu nome (“Onésimo” significa “útil”). Mas Paulo declara que, apesar da inutilidade do passado, Onésimo “agora é muito útil para nós dois” (Filemom 1:11 NVT). O apóstolo fala não como quem envia um servo de volta, mas como quem envia uma parte de si mesmo (Filemom 1:12) – e peso desta declaração não passaria despercebido, pois ela coloca Filemom diante de um dilema moral e espiritual.
Será que Filemom receberia, rejeitaria ou castigaria Onésimo? Apegar-se-ia aos seus direitos de senhor, ou responderia conforme a graça do Evangelho? Reagiria segundo a lei de Roma, ou segundo a lei de Cristo?




