Leitura Bíblica: Tiago 5:13
Versículo-chave: “Algum de vocês está passando por dificuldades? Então ore. Alguém está feliz? Cante louvores.” (Tiago 5:13 NVT)
O versículo de hoje reflete dois extremos da experiência humana: o sofrimento e o contentamento. Um discípulo de Cristo pode estar “passando por dificuldade” em determinado momento e, estar “feliz” em outro. Tiago, portanto, oferece uma orientação pastoral clara e direta para ambas as situações: diante do sofrimento, a oração; diante da alegria, o louvor.
A pergunta retórica — “Algum de vocês está passando por dificuldade?” — tem o propósito de destacar e tornar pessoal a exortação que vem em seguida. O termo grego kakopathei deriva de kakos (mal) e páthos (sofrimento), transmitindo a ideia de “padecer o mal” ou “passar por tribulação”. Assim, ele não se restringe às enfermidades físicas que serão abordadas no versículo seguinte (Tiago 5:14), mas abrange também as angústias mentais, perseguições e pressões de diversas naturezas. Além disso, não deve ser reduzido a simples tristeza ou abatimento emocional, pois descreve uma condição espiritual ou circunstancial na qual o indivíduo se encontra sob provação
Dessa forma, a pergunta de Tiago atua como um chamado à autoanálise: há entre a comunidade de fé alguém suportando aflições? Essa indagação não é teórica, pois, de fato, entre os cristãos existem muitos que sofrem — como aqueles que eram vítimas de injustiça dos ricos (Tiago 5:1-6), de calúnias, privações e outros tipos de sofrimento. A exortação seguinte fala diretamente a essa realidade: não respondam à opressão, à difamação, à perda ou à dor com desespero, queixas ou palavras impensadas, mas, se alguém entre vocês estiver “passando por dificuldades, então ore”.
Esse imperativo não representa apenas um ato isolado de oração, mas uma prática contínua e perseverante. Ele não se limita a pedidos pontuais, mas engloba toda forma de diálogo com Deus: súplica, lamento, ações de graças, adoração, meditação, confissão e entrega. Para o cristão, a oração é a resposta espiritual adequada ao sofrimento. Em vez de amaldiçoar, deve-se orar; em vez de revoltar-se, deve-se “rasgar” o coração diante do Senhor.
Há no ser humano uma inclinação natural a voltar-se para Deus nos momentos de aflição, mesmo que o tenha ignorado em tempos de contentamento. Contudo, o cristão precisa desenvolver essa dependência de modo constante, não considerando a oração como uma reação ao sofrimento, mas uma disciplina espiritual de rendição, confiança e esperança. Assim, o cristão não ora somente quando já perdeu todos os recursos, mas porque crê — e é justamente essa fé que o impulsiona a buscar, na comunhão com Deus, não apenas consolo, mas sabedoria para enfrentar e suportar com paciência as provações.
E quando o consolo chega, quando a alma encontra contentamento, o que o cristão deve fazer? Tiago orienta:
“Alguém está feliz? Cante louvores.”
Não apenas quem sofre deve reagir espiritualmente, mas também aquele que desfruta da alegria deve expressá-la diante de Deus. O contentamento coloca o cristão diante de uma responsabilidade espiritual: não reter o louvor, não se distrair com futilidades, não se tornar negligente ou soberbo, mas responder com gratidão sincera, viva e reverente.
A exortação de Tiago é, portanto, um chamado direto à adoração consciente. Ele reconhece que a caminhada cristã inclui dias de serenidade e júbilo, e para esses momentos também há um caminho a ser trilhado: “Alguém está feliz? Cante louvores”. Esse louvor não é opcional, mas uma resposta coerente e espiritual ao estado de ânimo saudável que Deus concede ao crente. Portanto, assim como o aflito deve orar, o alegre deve louvar — “cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Efésios 5:19 NVT).




