Leitura Bíblica: Tiago 4:13-14
Versículo-chave: “Prestem atenção, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos a determinada cidade e ficaremos lá um ano. Negociaremos ali e teremos lucro’.” (Tiago 4:13 NVT)
A frase de abertura do versículo-chave de hoje – “Prestem atenção!” – funciona como um recurso literário utilizado para introduzir advertências ou exortações severas. Neste contexto, trata-se de uma repreensão direta àqueles que viviam com arrogância e presunção. A expressão “vós que dizem” identifica o grupo a quem Tiago se dirige: comerciantes e negociantes judeus cristãos, muitos deles espalhados pela diáspora, que faziam seus planos financeiros sem levar em conta a soberania de Deus.
“Prestem atenção, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos a determinada cidade e ficaremos lá um ano. Negociaremos ali e teremos lucro’.” (Tiago 4:13 NVT)
A ausência de qualquer referência à vontade de Deus nesse planejamento revela o problema central: a confiança na própria habilidade de projetar, decidir e construir o futuro. O erro não está em planejar, mas em planejar sem Deus — ou seja, em excluir o Senhor das decisões e da rotina diária. O pecado está em agir como se a vida nos pertencesse, como se o tempo estivesse sob nosso controle e como se Deus fosse dispensável.
Observe que esses comerciantes não apenas dizem que irão “a determinada cidade”, mas também determinam que lá permanecerão “um ano” e alcançarão “lucros” conforme o previsto. Nada é condicional; tudo é afirmado com total certeza. É justamente essa autossuficiência que Tiago censura, pois o tempo era tratado como um bem administrado sob domínio humano.
É importante destacar que Tiago não condena o comércio em si. O alvo de sua crítica é o orgulho de quem ignora a brevidade da vida humana e confia em uma segurança que despreza Deus e Sua vontade. Por isso ele prossegue:
“Como sabem o que será de sua vida amanhã? A vida é como a névoa ao amanhecer: aparece por um pouco e logo se dissipa.” (Tiago 4:14 NVT)
Tiago desfaz a ilusão da autossuficiência humana ao lembrar que o futuro escapa completamente ao controle e ao conhecimento do homem – uma advertência que nos remete a Provérbios 27:1. Jesus também reafirma essa verdade no Sermão do Monte (Mateus 6:34) e na Parábola do Rico Insensato (Lucas 12:16-21), mostrando que planejar sem Deus é demonstração de insensatez.
Assim, Tiago reafirma um princípio bíblico fundamental: o ser humano é limitado pelo tempo e totalmente dependente do Criador. A pessoa, portanto, vive em constante incerteza quanto ao amanhã, e é por isso que submeter seus planos à vontade de Deus não é mera religiosidade, mas um ato de reconhecimento da fragilidade humana e da soberania do Senhor.
Quando Tiago pergunta: “Como sabem o que será de sua vida amanhã?”, ele não se refere à rotina, à ocupação profissional ou à posição social, mas à essência da existência diante de Deus. É um chamado à humildade e à reverência. E a resposta é clara: a vida “é como a névoa ao amanhecer: aparece por um pouco e logo se dissipa”. Essa metáfora – também usada por Pedro para descrever a glória humana (1 Pedro 1:24) – ressalta a instabilidade, a vulnerabilidade e a efemeridade da vida, evidenciando sua aparência passageira e ilusória. Aquilo que muitos julgam ser firme e controlável, na verdade, é apenas um sopro que logo desaparece.
Portanto, a exortação de Tiago nos ensina que o tempo pertence a Deus, não ao homem; que nossa confiança não deve estar no “hoje” nem no “amanhã”, mas na eternidade; e que o verdadeiro problema não é a brevidade da vida, mas a tentativa de vivê-la à parte da vontade do Senhor da vida!