Leitura Bíblica: Levítico 16:20-26
Versículo-chave: “Ao sair para o deserto, o bode levará sobre si todos os pecados do povo para um lugar distante.” (Levítico 16:22 NVT)
Depois de concluir toda a expiação referente ao Santo dos Santos, à Tenda do Encontro e ao altar, Arão trazia o bode que permanecia vivo, colocava ambas as mãos sobre a cabeça do animal e confessava sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados, transferindo-os simbolicamente para o bode. Esse gesto de imposição de mãos representava uma transferência simbólica da culpa. Assim, o animal se tornava o portador do pecado do povo.
Logo após, Arão entregava o bode a um homem designado, que o conduzia para o deserto, rumo a uma região isolada. O animal levava consigo todas as maldades do povo para um local desabitado, um território árido, simbolizando a retirada completa e permanente do pecado de Israel:
“Ao sair para o deserto, o bode levará sobre si todos os pecados do povo para um lugar distante.” (Levítico 16:22 NVT)
O foco aqui não estava na morte do animal, mas na sua partida, levando embora o peso da impureza e da condenação. Esse procedimento atuava como um forte lembrete de que a expiação não apenas cobria o pecado, mas o removia para longe da comunidade, permitindo um recomeço. O indivíduo responsável por guiar o bode ao deserto, por ter contato com a culpa transferida, tornava-se cerimonialmente impuro e precisava lavar suas roupas e banhar-se antes de retornar ao acampamento (Levítico 16:26).
O bode emissário é o portador da culpa destinado à sua completa eliminação. Ele não volta, e com ele, o pecado da nação é conduzido a um lugar de esquecimento, removido da presença de Deus e das pessoas. Essa ação revela a amplitude da obra expiatória divina, que não somente perdoa, mas também apaga a lembrança do pecado, libertando o povo de sua culpa e vergonha.
O Dia da Expiação foi instituído pelo próprio Deus, no entanto, assim como todo o sistema sacrificial levítico, era limitado e provisório. A carta aos Hebreus destaca essa fragilidade com grande detalhe. O ritual precisava ser repetido anualmente (Levítico 16:34), revelando que ele não trazia uma purificação definitiva:
“Se tivessem esse poder, já não precisariam existir, pois os adoradores teriam sido purificados de uma vez por todas, e a consciência de seus pecados teria desaparecido.” (Hebreus 10:2 NVT)
Os sacrifícios de animais eram capazes de remover a culpa cerimonial, mas não conseguiam “criar no adorador uma consciência totalmente limpa” (Hebreus 9:9NVT). Eles encobriam a culpa, porém não a eliminavam em sua essência. O próprio Sumo Sacerdote era falho e precisava primeiro fazer expiação por si mesmo (Levítico 16:6, 11), revelando os limites de sua mediação. Essas limitações não tornavam o sistema inválido para o Antigo Testamento, mas evidenciavam que ele servia como prelúdio, uma preparação para a chegada de uma expiação definitiva e perfeita.
A figura do bode emissário, carregando as culpas para longe, encontra sua expressão mais completa em Cristo que, “da mesma forma, sofreu fora das portas da cidade, para santificar seu povo mediante seu próprio sangue” (Hebreus 13:12 NVT); Ele se tornou pecado por nós (2 Coríntios 5:21). Assim como o bode enviado ao deserto não voltava, as transgressões removidas por Cristo são total e eternamente afastadas, jamais sendo lembradas por Deus contra nós (Hebreus 8:12). A obra de Cristo no Calvário não apenas operou a expiação, mas também a remoção do poder e da culpa do pecado.
“De nós Ele afastou nossos pecados, tanto como o Oriente está longe do Ocidente.” (Salmos 103:12 NVT)




