Leitura Bíblica: Tiago 4:9-10
Versículos-chave: “Que haja lágrimas, lamentação e profundo pesar. Que haja choro em vez de riso, e tristeza em vez de alegria. Humilhem-se diante do Senhor, e Ele os exaltará.” (Tiago 4:9-10 NVT)
A convocação de Tiago, neste ponto, é um chamado à reflexão profunda e sincera diante da realidade do pecado. A expressão “que haja lágrimas, lamentação e profundo pesar” (Tiago 4:9a NVT) carrega a ideia de “sofrer angústia”, “experimentar a miséria interior”, mas, diferentemente de um sofrimento causado por circunstâncias externas, trata-se de uma disposição voluntária de arrependimento. Os destinatários da carta são convocados a se entristecer não apenas pelos efeitos de seus pecados, mas pela raiz interior que os sustenta: a mente dividida, o orgulho, a amizade com o mundo e o desejo de autoexaltação.
No Antigo Testamento, o arrependimento genuíno era frequentemente acompanhado por manifestações externas (visíveis) de dor: rasgar as roupas, jejuar, colocar cinzas sobre a cabeça e lamentar os pecados cometidos (Isaías 22:12; Jeremias 6:26; Joel 2:12). O termo usado por Tiago carrega a ideia de uma atitude interior que reconhece, como o filho pródigo, o abismo da própria miséria espiritual (Lucas 15:17).
“Que haja choro em vez de riso, e tristeza em vez de alegria.” (Tiago 4:9b NVT)
A alegria daqueles que se deleitam nos prazeres transitórios do mundo – já denunciada em Tiago 4:4 como “amizade com o mundo” – deve ser substituída por genuína lamentação diante da consciência do pecado e da infidelidade para com Deus. A palavra “riso”, raramente usada no Novo Testamento, refere-se a um riso vazio e zombeteiro, típico dos que confiam em si mesmos e desprezam a graça. Sobre esse tipo de alegria ilusória, Jesus advertiu:
“Que aflição espera vocês que agora riem, pois em breve seu riso se transformará em lamento e tristeza!” (Lucas 6:25 NVT)
O termo “choro”, por sua vez, está profundamente relacionado ao arrependimento, sendo usado em contextos de luto, perda e conversão (2 Coríntios 7:10). Assim, Tiago não convida seus leitores a uma tristeza meramente emocional ou momentânea, mas a uma atitude de contrição que se expressa no quebrantamento diante da santidade de Deus. Sobre esse choro, Jesus afirmou:
“Felizes os que choram, pois serão consolados.” (Mateus 5:4 NVT)
Por outro lado, a palavra “alegria” tem aqui um sentido de denúncia – não representa o fruto do Espírito, mas a euforia mundana que despreza a pureza e a presença de Deus. Por isso, o chamado para que haja “tristeza em vez de alegria” é um convite à renúncia consciente dos falsos prazeres e das ilusões do mundo, em favor do lamento que conduz à vida – um confronto direto contra uma espiritualidade superficial que tenta conciliar o amor ao mundo com a devoção a Deus.
“Humilhem-se diante do Senhor, e Ele os exaltará.” (Tiago 4:10 NVT)
O verbo “humilhar” aqui não implica degradação ou opressão, mas a disposição voluntária de ocupar o lugar que Deus designa ao ser humano diante de Sua presença. Em outras palavras, humilhar-se diante do Senhor não é simples introspecção, mas um ato consciente de submissão à Sua majestade e soberania.
A promessa de exaltação vem do próprio Deus, e se é Ele quem exalta, não cabe ao homem tentar elevar-se por conta própria. Assim, o imperativo “humilhem-se diante do Senhor” representa o caminho de reconciliação e restauração que se opõe ao orgulho – identificado anteriormente como a origem dos conflitos, das disputas e da resistência contra Deus.
“Portanto, humilhem-se sob o grande poder de Deus e, no tempo certo, Ele os exaltará.” (1 Pedro 5:6 NVT)