Leitura Bíblica: Filemom 1:13-16
Versículo-chave: “Ele já não é um escravo para você. É mais que um escravo: é um irmão amado, especialmente para mim. Agora ele será muito mais importante para você, como pessoa e como irmão no Senhor.” (Filemom 1:16 NVT)
Ler a carta de Paulo a Filemom como se fosse apenas um pedido pessoal entre dois irmãos na fé é ignorar completamente a sua profundidade, pois essa carta vai muito além de um simples apelo por compaixão ou de uma solicitação para que um senhor repense o modo como tratará um escravo fugitivo. Ela é uma evidência viva do poder do Evangelho, que destrói as barreiras erguidas pelos homens, redefine identidades e chama cada cristão a um novo e radical estilo de vida – um caminho onde o perdão não é uma alternativa, mas uma exigência inegociável.
“Seu Pai celestial os perdoará se perdoarem aqueles que pecam contra vocês. Mas, se vocês se recusarem a perdoar os outros, seu Pai não perdoará seus pecados.” (Mateus 6:14-15 NVT)
Esse texto não apresenta uma sugestão, mas um imperativo para espelharmos a misericórdia que recebemos. O perdão é central na vida cristã, não por ser algo simples ou espontâneo, mas porque constitui o fundamento sobre o qual nossa comunhão com Deus foi edificada. Negar o perdão não é apenas rejeitar alguém, é rejeitar o próprio caráter de Deus, é negar o sacrifício de Cristo e reconstruir muros que Ele já derrubou.
Depois de recorrer à confiança de Filemom, Paulo decide levá-lo à reflexão:
“Ao que parece, você perdeu Onésimo por algum tempo para ganhá-lo de volta para sempre.” (Filemom 1:15 NVT)
Em outras palavras, Paulo estava contrapondo a separação temporária devido à fuga de Onésimo com o benefício eterno de sua salvação: de escravo temporário a filho, de uma condição degradante a uma eterna relação com Cristo e os demais irmãos.
Ao olhar para nós mesmos, uma realidade inegável se revela: todos nós somos Onésimo. Cada um, à sua maneira, já se afastou e fugiu do Criador. Todos carregamos uma dívida impagável, um fardo de pecado que nenhum esforço humano poderia quitar. Contudo, Cristo tomou o nosso lugar, suportando o peso total de nossas transgressões.
Essa é a essência do Evangelho: a boa nova de que Cristo, em sua graça, não nos atribuiu nossas culpas, mas as carregou sobre si na cruz, reconciliando-nos com o Pai (2 Coríntios 5:19-21). Se fomos perdoados de uma dívida infinita, mesmo sem merecimento algum, como poderíamos negar esse mesmo perdão a quem nos ofende?
“Ele já não é um escravo para você. É mais que um escravo: é um irmão amado, especialmente para mim. Agora ele será muito mais importante para você, como pessoa e como irmão no Senhor.” (Filemom 1:16 NVT)
Ao exortar Filemom a receber Onésimo não mais como escravo, mas como “irmão amado”, Paulo não estava apenas defendendo a liberdade de um homem, mas anunciando que, em Cristo, todo o sistema que classificava pessoas por posição social, riqueza ou origem havia sido desfeito. Em Cristo, o muro da separação foi derrubado, e em seu lugar surgiu uma nova família, unida pela mesma graça, onde ninguém é superior nem inferior (Efésios 2:14). Assim, ao acolher Onésimo como “irmão no Senhor”, Filemom testemunharia de forma prática o poder transformador do Evangelho.
Por isso, a carta de Paulo a Filemom segue nos desafiando a sondar nossos corações e refletir: Ainda olhamos para as pessoas com os olhos do mundo, ou sob a ótica de Cristo? Quem são os nossos “Onésimos” — aqueles a quem ainda mantemos afastados, recusando-nos a perdoar e a acolhê-los como família em Cristo Jesus?
“Quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que seu Pai no céu também perdoe seus pecados. Mas, se vocês se recusarem a perdoar, seu Pai no céu não perdoará seus pecados.” (Marcos 11:25-26 NVT)




