Leitura Bíblica: Tiago 5:9
Versículo-chave: “Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que não sejam julgados. Pois, vejam, o Juiz está à porta!” (Tiago 5:9 NVT)
A comunidade cristã estava enfrentando injustiças impostas pelos ricos exploradores (Tiago 5:1-6). Depois de ser chamada à paciência e à perseverança, ela agora, em meio à vulnerabilidade da espera, corre o risco de voltar-se contra si mesma. Após exortar os cristãos a fortalecerem o coração, Tiago os adverte sobre um perigo que ameaça corroer a unidade, a paciência e a esperança dos que aguardam a vinda do Senhor: a murmuração.
“Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que não sejam julgados. Pois, vejam, o Juiz está à porta!” (Tiago 5:9 NVT)
O termo “queixar” traduz a ideia de “gemer” ou “suspirar”, mas também, em um sentido moral e relacional, significa “reclamar” e “murmurar”. A expressão “uns dos outros” sugere um ambiente de críticas mútuas, um espírito de queixa horizontal dentro da comunidade de fé. Quando o coração não está fortalecido, o abatimento pode dar lugar à murmuração, e a esperança se converter em discórdia.
A advertência “não se queixem uns dos outros” é explicada na sequência: “para que não sejam julgados”. Em outras palavras, o ato de reclamar ou julgar o irmão nos coloca diante de Deus como culpados, pois apenas Ele é o Juiz supremo. Essa orientação está em perfeita harmonia com o ensino de Jesus no Sermão do Monte: “Não julguem para não serem julgados, pois vocês serão julgados pelo modo como julgam os outros. O padrão de medida que adotarem será usado para medi-los” (Mateus 7:1-2 NVT). Tiago, portanto, reforça o mesmo princípio: aquele que julga o próximo será avaliado com a mesma medida.
Assumir o papel de juiz é usurpar um lugar que pertence exclusivamente a Deus. Por isso, a exortação de Tiago é uma aplicação prática do tema central de sua carta: a fé genuína se expressa em ações, inclusive na forma como falamos e tratamos nossos irmãos, especialmente em tempos de provação. A murmuração revela uma fé vacilante, uma incredulidade quanto à justiça futura. E Tiago ressalta que essa justiça não é apenas uma promessa distante, mas uma realidade iminente: “Vejam, o Juiz está à porta!”.
Esse versículo nos introduz à realidade escatológica do “já” e “ainda não”: o Juiz não está ausente nem apenas a caminho — Ele já está à porta, pronto para entrar, exercer juízo e separar as ovelhas dos bodes. O título “o Juiz” não se refere a qualquer autoridade humana, mas a uma figura bem identificável, pois o Novo Testamento reserva essa designação a Deus e a Cristo Jesus (2 Timóteo 4:8; Hebreus 12:23). Assim, o Juiz mencionado por Tiago é o próprio Senhor que há de julgar os vivos e os mortos (Atos 10:42).
A razão final pela qual os crentes devem evitar murmurações e julgamentos mútuos é esta: o verdadeiro Juiz já se encontra posicionado, e Sua vinda é iminente. A justiça não está ausente, mas prestes a se manifestar — ela está, literalmente, “à porta”. Essa imagem da porta sugere um importante momento:
“Quando o dono da casa tiver trancado a porta, será tarde demais. Vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abra a porta para nós!’. Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são’.” (Lucas 13:25 NVT)
Nesse texto, a porta simboliza o limite da graça — um tempo que se encerrará quando o juízo chegar. Já em Tiago, o fato de o Juiz estar à porta indica que ainda há tempo para arrependimento, vigilância, paciência e perseverança, embora esse tempo esteja chegando ao fim. O “Juiz está à porta”, e quem ousa ocupar Seu lugar, murmurando contra o irmão, será julgado pelo próprio Senhor, que já está de pé, pronto para agir.
“Portanto, não julguem ninguém antes do tempo, antes que o Senhor volte. Pois ele trará à luz nossos segredos mais obscuros e revelará nossas intenções mais íntimas. Então Deus dará a cada um a devida aprovação.” (1 Coríntios 4:5 NVT)




