Leitura Bíblica: Tiago 4:6
Versículo-chave: “Contudo, Ele generosamente nos concede graça. Como dizem as Escrituras: ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’.” (Tiago 4:6 NVT)
Em contraste com a cobiça destrutiva, os ciúmes carnais e a amizade mundana mencionados nos versículos anteriores, Tiago apresenta agora um contraponto diretamente vinculado ao zelo do Espírito citado no versículo anterior:
“Ele generosamente nos concede graça.” (Tiago 4:6a NVT)
A “graça” é uma dádiva de Deus que supera a inveja e o desejo egoísta humano. Diante da queda, da hostilidade do mundo e da soberba do coração, Deus responde com uma abundância de favor imerecido. A expressão “nos concede graça” comunica uma ação contínua — não uma porção limitada de auxílio, mas uma doação constante e generosa. Assim, a afirmação de que Deus “generosamente nos concede graça” transforma a denúncia do pecado em uma oportunidade para o arrependimento.
De fato, “o Espírito colocado por Deus em nós tem ciúmes”, mas, ainda assim, “Ele generosamente nos concede graça”. Essa graça divina não se limita ao ato inicial da salvação, mas se estende ao sustento diário e contínuo que fortalece o cristão a resistir ao diabo e a submeter-se a Deus. Dessa forma, a graça manifesta-se como um movimento redentor que nasce do zelo de Deus e transborda em santidade prática. Tiago reforça essa verdade ao citar as Escrituras:
“Como dizem as Escrituras: ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’.” (Tiago 4:6b NVT; Provérbios 3:34)
Percebe-se que o autor recorre ao Antigo Testamento sem alterar os tempos verbais, ressaltando a autoridade viva e permanente da Palavra. Assim, Tiago afirma que Deus não apenas desaprova os soberbos, mas “se opõe” a eles — posicionando-se como um comandante diante de um exército rebelde.
O termo “orgulho” (ou “soberba”) traduz o vocábulo grego hyperéphanois (hypér = acima; phaino = aparecer, brilhar), designando aquele que “se mostra acima dos outros” — o arrogante, pretensioso, que busca impor-se com altivez e superioridade. O orgulho é, portanto, a essência da rebelião contra Deus pois, em sua raiz, é uma rejeição da soberania divina — um gesto de arrogância espiritual e autossuficiência, oposto à verdadeira humildade.
Para Tiago, o soberbo é aquele dominado pela cobiça, que faz orações movidas por interesses pessoais e mantém amizade com o mundo (Tiago 4:2-4). Deus não apenas se afasta de tais corações, mas age contra eles em fidelidade à Sua própria santidade.
Desse modo, a altivez e a submissão confiante a Deus são caminhos incompatíveis. Por isso, a conjunção adversativa “mas” assume grande relevância, marcando o contraste em que a graça divina, antes retida, agora é concedida com generosidade: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
A palavra “humilde” (do grego tapeinos) não se refere a uma condição social ou econômica inferior, mas a uma disposição interior de reconhecer a própria limitação diante de Deus. A humildade, portanto, não é passividade ou timidez, mas uma postura ativa de dependência e quebrantamento. O humilde não resiste a Deus, ele se submete; não exige, mas suplica; não determina, mas escuta e obedece. Assim, a oposição de Deus é inevitável para o altivo (orgulhoso), mas Sua graça é irresistível para o quebrantado e contrito (humilde). Portanto…
“Vistam-se de humildade no relacionamento uns com os outros. Pois, ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’.” (1 Pedro 5:5 NVT)