Leitura Bíblica: Rute 4:9-22; Gálatas 3:29; Efésios 2:13-16
Versículo-chave: “E, junto com a propriedade, tomei como esposa Rute, a viúva moabita de Malom. Assim, ela poderá ter um filho que leve o nome da família de seu falecido marido e herde a propriedade da família aqui na cidade natal dele. Vocês hoje são testemunhas disso.” (Rute 4:10 NVT)
O livro de Rute é uma das belíssimas narrativas das Escrituras, não apenas por apresentar personagens marcados por virtude e coragem, mas por evidenciar a atuação poderosa de Deus guiando, por meio de eventos cotidianos, a grande história da redenção. Embora pareça uma história simples, o livro é profundamente centrado em Cristo. De modo especial, a figura de Boaz como parente-resgatador torna-se um forte prenúncio de Jesus e de Sua obra redentora.
A narrativa começa “nos dias em que os juízes governavam Israel” (Rute 1:1 NVT), período marcado por infidelidade, idolatria e degradação moral: “cada um fazia o que parecia certo a seus próprios olhos” (Juízes 21:25 NVT). É nesse cenário sombrio que surge Rute, uma estrangeira moabita que abandona os ídolos de sua nação e se consagra ao Deus de Israel, declarando: “Seu povo será o meu povo, e seu Deus, o meu Deus” (Rute 1:16 NVT). Diferente de Israel, que frequentemente se desviava para a idolatria, Rute, uma gentia, entrega-se com sinceridade ao Senhor.
Deus, então, conduz Rute e Noemi de volta a Belém após amargas perdas (Rute 1:20-21). O texto destaca que “Rute saiu para colher espigas após os ceifeiros. Aconteceu de ela ir trabalhar num campo que pertencia a Boaz, parente de seu sogro, Elimeleque” (Rute 2:3 NVT). Esse aparente acaso não foi mero acidente, mas sim manifestação direta da providência de Deus.
Boaz é descrito como um homem influente e honrado, pertencente à tribo de Judá, a mesma tribo à qual Jacó atribuiu a promessa do cetro real (Gênesis 49:10). Ele vivia em Belém, cidade de onde viria Davi e, na plenitude dos tempos, o local do nascimento de Jesus, o Cristo (Miqueias 5:2; Mateus 2:1). Assim, desde o princípio, a narrativa já apontava para o Messias prometido.
A relevância teológica de Boaz está justamente em sua função como parente-resgatador. Essa lei, registrada em Levítico 25:25-30, 47-55, determinava que um familiar próximo podia readquirir propriedades, preservar a linhagem ou libertar um parente empobrecido ou escravizado. Antes mesmo de a lei regulamentar essa prática entre os homens, o próprio Deus já era chamado de Resgatador (Gênesis 48:15-16; Êxodo 6:6). Portanto, quando alguém agia como resgatador, tornava-se instrumento do Senhor, representando Seu cuidado para com os necessitados.
É exatamente isso que Boaz se propõe a realizar: ele não somente demonstra benevolência para com Rute, mas também assume o preço do resgate:
“E, junto com a propriedade, tomei como esposa Rute, a viúva moabita de Malom. Assim, ela poderá ter um filho que leve o nome da família de seu falecido marido e herde a propriedade da família aqui na cidade natal dele. Vocês hoje são testemunhas disso.” (Rute 4:10 NVT)
A narrativa evidencia que Boaz age de acordo com a lei e com o caráter do Senhor: antes de tomar Rute como esposa, ele consulta quem possuía prioridade no resgate. Quando o outro parente recusa, Boaz assume a responsabilidade, paga o preço, restaura a herança e assegura o futuro de Noemi e Rute. Essa atuação de Boaz é uma figura direta da obra de Cristo. O Novo Testamento apresenta Jesus como Aquele que cumpriu perfeitamente a Lei do Senhor (Mateus 5:17; Gálatas 4:4-5) e que pagou o valor da nossa salvação – não com metais preciosos, mas com Seu precioso sangue.
Assim como Boaz respeitou a lei antes de resgatar Rute, Cristo satisfez plenamente a justiça de Deus. Boaz liberta Rute da pobreza, do isolamento e da ausência de esperança; Cristo nos salva do pecado, da morte e da condenação eterna. Outro ponto notável é que Boaz resgata uma estrangeira, o que simboliza o mistério revelado no Evangelho: judeus e gentios reunidos como um único povo, herdeiros das promessas feitas a Abraão.
Portanto, a história deixa claro que Rute e Boaz não são os protagonistas, mas apenas personagens dentro de algo infinitamente maior: o Deus soberano, que conduziu Rute até Belém, estava tecendo a história da redenção que culminaria em Cristo, nosso supremo e eterno Resgatador!




