Leitura Bíblica: Tiago 5:4-6
Versículo-chave: “Por isso, ouçam os clamores dos que trabalharam em seus campos, cujo salário vocês retiveram de modo fraudulento! Sim, os clamores dos que fizeram a colheita em seus campos chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” (Tiago 5:4 NVT)
A Bíblia não condena o fato de alguém possuir riquezas, desde que estas sejam resultado da benção de Deus e de um trabalho honesto. O pecado, segundo as Escrituras, não está em ter bens, mas na forma como eles são conquistados (por meios ilícitos) e empregados (para fins egoístas e injustos). O julgamento de Deus recai sobre a economia injusta dos ricos opressores.
Tiago retoma expressões do Antigo Testamento e as aplica à realidade de seu tempo: os trabalhadores que “fizeram a colheita em seus campos” simbolizam uma classe social extremamente vulnerável – eram trabalhadores temporários que dependiam do pagamento diário para garantir sua sobrevivência. Negar-lhes o salário significava lançá-los à fome e à miséria. Assim, Tiago não denuncia um erro administrativo qualquer, mas um ato de exploração consciente e cruel.
O termo “clamores” expressa o grito angustiado dos que sofrem injustiça. É uma súplica insistente que, embora possa ser ignorada nos tribunais humanos, continua ressoando diante de Deus. Para Tiago, esse clamor é o primeiro passo do juízo divino (Deuteronômio 24:15). Por isso, quando ele declara que “os clamores dos que fizeram a colheita em seus campos chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”, está afirmando que a sentença divina já foi pronunciada.
“Vocês levam uma vida de luxo na terra, satisfazendo seus desejos e engordando a si mesmos para o dia do abate.” (Tiago 5:5 NVT)
A expressão “levam uma vida de luxo na terra” revela mais do que a busca por conforto; descreve uma existência marcada pela extravagância e pela corrupção moral. Tiago repreende os ricos que se deleitam em prazeres egoístas enquanto permanecem indiferentes à voz dos injustiçados. Como animais alimentados antes do sacrifício, esses opressores engordam “a si mesmos para o dia do abate”. O “dia do abate” simboliza o juízo final de Deus, que virá sobre toda forma de injustiça e sobre a riqueza desprovida de temor e compaixão.
A sentença seguinte – “Condenam e matam inocentes, sem que eles resistam” (Tiago 5:6) – descreve o ponto mais alto da depravação humana. Além de enriquecerem por meios desonestos, os poderosos manipulavam as leis para oprimir, condenar e até matar inocentes. Como o Servo Sofredor de Isaías 53:7 e o próprio Cristo, que permaneceu em silêncio diante de seus acusadores (Mateus 26:63; João 19:9), os inocentes sofrem sem reagir. Essa ausência de resistência não é fraqueza, mas confiança de que “o Juiz está às portas!” (Tiago 5:9 NVT).
Os ricos opressores do tempo de Tiago continuam tendo seus equivalentes hoje. Vivemos em sociedades que exaltam o lucro acima da dignidade humana, onde o trabalhador se tornou descartável e o sofrimento, invisível. Tiago não critica apenas empresários sem escrúpulos, mas todo um sistema movido pela cobiça, que reduz pessoas a ferramentas de produção. A retenção de salário, em linguagem moderna, abrange o atraso proposital de pagamentos, contratos injustos, jornadas longas e exaustivas, e o enriquecimento sustentado pela humilhação alheia. O pecado é o mesmo: exploração disfarçada de progresso.
Mas o mesmo Deus que ouviu o clamor dos ceifeiros continua ouvindo hoje! E o Deus que ouve, também julgará – com justiça perfeita e sem parcialidades! Portanto, todos os que acumulam riqueza às custas da opressão enfrentarão o mesmo destino: o juízo inevitável do Senhor dos Exércitos!