Leitura Bíblica: Filemom 1:1
Versículo-chave: “Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador.” (Filemom 1:1 NVT)
A carta a Filemom é uma das mais breves do apóstolo Paulo, mas também muito profunda. Escrita de dentro de uma prisão, ela enfatiza a força redentora do Evangelho que liberta, reconcilia e redefine relacionamentos. Nesta breve carta, três histórias se entrelaçam: Paulo, o prisioneiro que fala com a autoridade da graça; Filemom, o cristão que que é encorajado ao perdão; e Onésimo, o escravo fugitivo que encontra uma nova identidade em Cristo.
Aos olhos da lei romana, Onésimo merecia punição severa; mas, aos olhos de Deus, ele era agora um novo homem – um irmão amado, transformado pelo poder do Evangelho (2 Coríntios 5:17).
Paulo escreve não como quem ordena, mas como quem intercede. Ele roga a Filemom que receba Onésimo, não segundo a lei de Roma, mas segundo a lei de Cristo. E, antes de compreendermos esse pedido, precisamos lembrar quem era Paulo. Antes de ser apóstolo, ele era perseguidor implacável da igreja, zeloso da lei, cego em seu próprio orgulho.
Saulo era um homem de privilégios e poder, profundamente enraizado nas tradições do judaísmo. Nascido em uma família judia devota na cidade de Tarso, era cidadão romano de nascimento (Atos 22:28) e, segundo a lei, era fariseu (Filipenses 3:5), meticulosamente instruído na lei de Moisés sob a tutoria do respeitado rabino Gamaliel (Atos 22:3), um dos maiores estudiosos de sua época.
Assim, em seu zelo por defender as tradições de seus antepassados, Saulo se tornou um homem consumido por uma justiça distorcida, acreditando que aquela nova seita, os chamados “seguidores do Caminho”, eram uma ameaça direta à pureza de Israel.
No caminho de Damasco, porém, uma luz do céu o derrubou e o confrontou com a verdade: “Saulo, Saulo, por que me persegue?” (Atos 9:4 NVT). Aquele encontro com Cristo o transformou completamente. O perseguidor se tornou pregador; e o opressor se tornou embaixador da reconciliação:
“E tudo isso vem de Deus, aquele que nos trouxe de volta para si por meio de Cristo e nos encarregou de reconciliar outros com ele. Pois, em Cristo, Deus estava reconciliando consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados das pessoas. E ele nos deu esta mensagem maravilhosa de reconciliação.” (2 Coríntios 5:18-19 NVT)
O homem que outrora acorrentava os cristãos, agora era “prisioneiro de Cristo Jesus”. Sua missão o levou por todo o mundo conhecido, pregando em sinagogas e praças, debatendo com filósofos em Atenas, plantando igrejas em Éfeso, Corinto e Filipos. Suportou espancamentos, naufrágios, fome e prisões, mas nada disso pôde silenciar a sua voz. E foi em uma dessa prisões que Paulo conheceu Onésimo, um escravo fugitivo que, assim como ele, havia estado perdido, mas agora fora encontrado.
É essa mesma graça que Paulo agora chama Filemom a viver. O Evangelho não é apenas uma mensagem a ser crida, mas uma realidade a ser demonstrada num novo modo de se relacionar. Filemom, ao receber Onésimo como irmão, demonstraria ao mundo que o Evangelho tem poder para romper correntes visíveis e invisíveis, destruindo as barreiras sociais, culturais e espirituais que o pecado ergueu (Gálatas 3:28).
Imagine a cena: Filemom com a carta em mãos, o coração dividido entre o direito e a graça, entre a voz da sociedade e a voz do Espírito Santo. O que ele fará?
Essa é também a nossa pergunta hoje. Quando o Evangelho nos confronta, seremos capazes de perdoar como fomos perdoados (Efésios 4:32)? Receberemos os que nos feriram como irmãos? A carta a Filemom nos convida a viver o Evangelho na prática: deixando que Cristo, o verdadeiro Mediador, nos ensine a ver o outro não mais segundo o pecado do passado, mas segundo a graça do presente.
Assim como Onésimo, todos nós éramos fugitivos – afastados de Deus, marcados por nossa culpa. Mas Cristo nos chamou, nos resgatou, nos adotou e nos fez parte de Sua família (Romanos 8:15). Agora, libertos e reconciliados, somos chamados a fazer o mesmo com os outros; pois o Evangelho não apenas muda pessoas – ele transforma relacionamentos!




