Leia Efésios 6:13
“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.”
Este trecho é fundamental para compreendermos o papel do soldado que Paulo está descrevendo. Muitos costumam dizer que a Igreja tem que lutar “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12); no entanto, essa não é a imagem que Paulo está apresentando aqui. Ele se refere a um soldado em território conquistado – pois o seu Senhor já venceu o pecado, a morte e o diabo – mas que está sendo alvo de ataques e precisa se defender, resistir e permanecer firme:
“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.”
Essa concepção fica mais clara quando analisamos a expressão “estar firmes” em Efésios 6:11, e “ficar firmes” em Efésios 6:13. No grego, é o mesmo verbo utilizado em contextos militares, indicando assumir uma posição de vigia ou manter-se firme em um momento crítico durante a batalha. Assim, o propósito de utilizar essa armadura – que não é nossa, é de Deus – é “resistir no dia mau”.
Em Efésios 5:16, é dito que “os dias são maus”, e o “dia mau” mencionado em Efésios 6:13 é o dia do conflito interno que pode representar qualquer luta espiritual em nossa vida – desemprego, enfermidade, luto, questões no casamento, desafios com os filhos, problemas na igreja, falta de perdão, falta de fé, ansiedade, ressentimentos, traumas, invejas, discussões, entre outros. Sendo assim, se tomarmos “toda a armadura de Deus” teremos condições de resistir diante de todos estes conflitos, e permanecer firmes!
Ao escrever sobre a armadura de Deus, Paulo pode ter se inspirado na vestimenta do soldado da guarda que o vigiava em sua prisão domiciliar, ou até mesmo nas descrições do Antigo Testamento que retratam Deus como o Senhor dos Exércitos. No entanto, o ponto a ser destacado é que Paulo nos apresenta uma analogia que caracteriza a vida cristã, visto que os elementos da armadura correspondem a tudo o que Cristo conquistou na cruz por nós: justiça, paz, fé, salvação.
Antes de detalhar os componentes da armadura, Paulo reitera: “Estai, pois firmes…” – como um lembrete essencial. Em seguida, ele ressalta “…tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça” (Efésios 6:14). Quem é a verdade? A Palavra de Deus é a verdade! Jesus, o Verbo encarnado, afirma em João 14:6 que Ele é “o caminho, a verdade e a vida”. Na Oração Sacerdotal, Ele suplica ao Pai para nos santificar na verdade e enfatiza que “a Tua palavra é a verdade” (João 17:17). Portanto, sem a verdade revelada por Deus nas Escrituras, não haveria justiça, paz, fé ou salvação para nos revestirmos.
Além do cinto da verdade, temos a “couraça da justiça”. Qual justiça? A justiça que Cristo conquistou na cruz para nossa justificação, para que pudéssemos “nos revestir do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:24). A doutrina da justificação pela fé é o ato de Deus redimir os pecadores eleitos e considerá-los justos gratuitamente por Sua graça, mediante a fé em Jesus Cristo. Todos pecaram, todos estão condenados à perdição eterna (leia Romanos 3:9,23); ninguém pode se justificar por seus próprios méritos. Entretanto, os cristãos são declarados justos diante de Deus porque Ele os trata com base no perfeito sacrifício de Cristo. Com essa verdade enraizada, podemos proclamar com confiança:
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5:1-2).