Leia Mateus 5:38,39
“Ouvistes que foi dito: “Olho por olho, e dente por dente”. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal.”
Até este ponto, já observamos que Jesus estabelece um contraste em cada uma das várias seções a partir do versículo 21 do capítulo 5 do Evangelho de Mateus. No entanto, é fundamental esclarecer que esse contraste não se refere a Moisés e Jesus. A oposição que Jesus apresenta em cada seção diz respeito à interpretação distorcida da lei imposta pela tradição humana -ensinada pelos fariseus e escribas; e o verdadeiro significado da lei de acordo com a revelação divina, agora reafirmada por Jesus.
No trecho que estudamos hoje, Jesus inicia com as palavras “Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho, e dente por dente’”. Essa declaração faz referência a várias passagens do Antigo Testamento e à chamada “lex talionis” que significa a “lei do talião” ou a “lei da reciprocidade direta” (leia Êxodo 21:23-25; Levítico 24:19,20). A lei da reciprocidade direta servia como um princípio regulador para os juízes, instruindo-os de que a sentença deveria ser apropriada e proporcional ao crime (leia Deuteronômio 19:16-21).
A responsabilidade dos juízes era julgar com equidade (leia Levítico 19:35; Deuteronômio 16:20), garantindo que todos tivessem um julgamento justo perante as autoridades civis. Um exemplo disso está registrado em Êxodo 21:22-25 (leia), onde se trata do caso de um homem que, durante uma briga, causa a morte de um bebê no ventre da mãe. Nesse caso, o agressor é considerado culpado de homicídio e a pena para tal crime era a morte. Assim, abolir a prática de “olho por olho, e dente por dente” equivaleria a abolir a justiça nos tribunais, pois estaria se afastando do princípio de que a punição por um crime deve ser proporcional ao delito.
Jesus não considera “olho por olho, e dente por dente” como algo oposto ao amor, mas enxerga como uma extensão do amor ao estabelecer juízes justos em tribunais justos, capazes de proferir julgamentos justos. Se afirmarmos que Jesus está eliminando a prática de “olho por olho, e dente por dente” como explicaríamos Mateus 5:25-26 (leia)? O que Jesus apresentou aqui é, na verdade, uma aplicação desse princípio, e não uma crítica aos juízes.
Essa perspectiva se torna ainda mais evidente quando consideramos o contexto mais amplo do Sermão do Monte, no qual o objetivo de Jesus não era anular ou abolir a Lei de Moisés, mas confirmá-la ao refutar as distorções ensinadas pelos escribas e fariseus que, no quesito “olho por olho, e dente por dente”, promoviam a vingança pessoal.
Portanto, Jesus enfatiza:
“Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.” (Mateus 5:39-42)
Aqui, Jesus apresenta algo superior e mais nobre do que a atuação dos magistrados: substituir a vingança, que permitia a retaliação, pelo amor. Mesmo que as pessoas nos desonrem ferindo nosso rosto, nos constranjam a fazer algo, nos privem de nossas roupas ou nos peçam algo emprestado, o verdadeiro discípulo de Cristo não responde com mal, mas com o bem. Ele não só controla suas ações, mas também suas reações. Dessa forma, Jesus elimina qualquer possibilidade de vingança pessoal, condenando todas as formas de “fazer justiça com as próprias mãos”, pois Ele é a nossa justiça, a qual é completa e perfeita.
“Porque bem conhecemos aquele que disse: ‘Minha é a vingança, eu darei a recompensa’, diz o Senhor. E outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo’.” (Hebreus 10:30)