“Os patriarcas tiveram inveja de seu irmão José e o venderam como escravo para o Egito. Mas Deus estava com ele e o livrou de todas as suas dificuldades.” (Atos 7:9,10 NVT)
Agora, Estêvão aborda a história de José, que compõe a segunda parte de seu sermão. Ele busca demonstrar como a profecia feita a Abraão foi cumprida, ao mesmo tempo em que mostra como o povo – representado pelos irmãos de José – se opõe aos líderes designados por Deus.
Estêvão inicia a narrativa falando sobre a inveja dos irmãos de José quando ele compartilhou seus sonhos que revelavam sua futura posição (confira Gênesis 37:11), e prossegue relatando que “os patriarcas tiveram inveja de seu irmão José e o venderam como escravo para o Egito” (confira Gênesis 37:28; 45:4). Apesar disso, “Deus estava com José e o livrou de todas as suas dificuldades” (confira Gênesis 39:2).
Para os judeus, era ofensivo ouvir que Deus estava com alguém fora de Canaã. Estêvão queria deixar claro que Deus é Deus em qualquer lugar, seja em Canaã ou no Egito. Tanto é que Ele favoreceu José diante do Faraó, graças à sabedoria demonstrada na interpretação dos sonhos do rei e nos planos para lidar com a fome que se aproximava.
E, quando a fome sobreveio sobre o mundo, atingiu também Canaã, a terra prometida: “Então veio uma fome sobre o Egito e sobre Canaã. Houve grande aflição, e nossos antepassados ficaram sem comida” (Atos 7:11 NVT). Estêvão, então, continua contando como os irmãos de José foram enviados ao Egito para comprar cereal, como José revelou sua identidade a eles, apresentando-os ao Faraó, e sobre a ida de Jacó e toda sua família para o Egito. Ele também menciona a morte de Jacó e seus antepassados, que foram sepultados em Siquém.
A observação de Estêvão sobre os patriarcas terem sido enterrados em Siquém é importante porque, naquele tempo, Siquém era o centro religioso dos samaritanos. Perto dali estava o monte Gerizim, onde havia um templo samaritano. Estêvão havia sido acusado de falar contra o templo de Jerusalém (confira Atos 6:13-14), o que, para seus ouvintes, tinha tanto peso quanto falar contra o próprio Deus. O ponto central do argumento de Estêvão é que Deus havia falado com Seu povo fora de Jerusalém, com ou sem templo.
Mais uma vez, as implicações messiânicas parecem ter sido perdidas pelos ouvintes de Estêvão. A verdade que ele procurava proclamar era que, aqueles que são levados por Deus a um alto ofício, geralmente são rejeitados pelos judeus. Jesus está claramente explícito na história de José: desde o fato de ser rejeitado pelos irmãos e amado pelo pai, ter sido vendido pelos que lhe eram próximos (por trinta moedas de prata), sua humilhação, apesar de sua integridade (na casa de Potifar e na prisão), até a exaltação e poder no Egito – tudo isso aponta para humilhação e glorificação de Cristo.
Portanto, um dos princípios fundamentais que devemos aprender com o sermão de Estêvão é que toda pregação fiel deve ser cristocêntrica. Isso não se refere a um método, mas a uma interpretação correta, centrada em Deus e não no homem; focada nos atributos de Deus, e não em qualidades humanas; nos decretos de Deus, e não em determinismos humanos.